O que é anarquismo?
A maioria das pessoas possui uma concepção errada a respeito do que é anarquismo. Imaginam anarquistas como bagunceiros que fazem atentados a bomba e que se vestem de forma esquisita. Na verdade, estes são apenas estereótipos que foram disseminados por aqueles que não desejam que o povo saiba sobre o que realmente é a ideia anarquista. Ao contrário do que prega o senso comum, anarquia não tem nada a ver com caos, e sim com ordem. Somos pessoas normais, que trabalham, que estudam, que têm família, amigas e amigos, que amam e que sofrem, que lutam. A única coisa que nos diferencia é o nosso desejo de libertação.
O anarquismo, também conhecido como socialismo libertário, é um movimento de justiça social, que deseja acima de tudo a liberdade para os indivíduos, buscando, assim, o fim de todas as formas de autoridade, hierarquia e violência. Para isso, propõe a eliminação dos governos, da economia capitalista e de qualquer tipo de exploração, opressão e preconceito. Em seu lugar, deseja a criação de uma sociedade justa e igualitária baseada no respeito, na solidariedade e no apoio mútuo, onde os indivíduos sejam educados para agir de forma ética visando o bem-estar de toda a comunidade. Ao invés das pessoas serem obrigadas a trabalhar para um patrão, detentor das fábricas, das máquinas, dos escritórios e das matérias primas, elas trabalham para si mesmas, objetivando a satisfação das necessidades da comunidade ao invés do lucro. A propriedade privada dos meios de produção é abolida e são criados armazéns públicos, para os quais cada pessoa contribui de acordo com sua capacidade e deles recebe de acordo com sua necessidade.
Em uma sociedade anarquista, não há a falsa democracia representativa atual, onde o povo é obrigado a escolher um político como porta-voz. No anarquismo, há democracia direta, onde cada indivíduo representa a si mesmo com a sua própria voz, a qual é ouvida e respeitada em assembleias que reúnem toda a população. O anarquismo objetiva a autonomia do indivíduo e a autogestão da sociedade, com a própria comunidade coordenando sua vida social, política e econômica por meio de coletivos, livres da interferência de autoridades. Dessa forma, não há políticos, pois é o próprio povo quem toma as decisões e as executa coletivamente. Anarquistas, portanto, acreditam na ação direta, a atividade sem intermediadores.
O anarquismo não defende a criação de partidos para a tomada do poder, pois é tanto contra a ditadura do capital quanto contra a ditadura do proletariado marxista. Nós nos organizamos pelo federalismo, onde indivíduos se unem em grupos, estes grupos se unem em federações, as federações em confederações, e assim por diante. Somos internacionalistas e formamos grandes redes de solidariedade mundial que atravessam quaisquer linhas geográficas imaginárias, sem a necessidade de nenhuma posição de chefia. Milhões de pessoas espalhadas por todo o mundo lutaram pela implementação desta forma de organização social. Entretanto, a resistência anarquista foi enfraquecida no século XX devido principalmente à repressão vinda de regimes totalitários como o fascismo, o marxismo-leninismo e as ditaduras militares, além das severas punições sofridas nas mãos da burguesia capitalista. O movimento atualmente se encontra em fase de reorganização.
Algumas pessoas acreditam que esta seja apenas uma ideia bonita, um sonho muito difícil de ser posto em prática. Entretanto, ao longo da história moderna, esta forma de organização já foi posta em prática algumas vezes, atingindo em alguns casos a participação de até vários milhares de pessoas. No final do século XIX, a Comuna de Paris foi levantada sobre vários princípios anarquistas, como o federalismo. Algumas décadas depois, em 1919, no início da Revolução Russa, o povo camponês da Ucrânia combateu o governo soviético e coletivizou o campo, vivendo em autogestão por diversos meses. Pouco mais de uma década e meia mais tarde, em 1936, ocorreu a Revolução Espanhola, o ponto mais alto da história anarquista, em que, mesmo sob ataque dos exércitos nazi-fascistas, as fábricas e os campos foram coletivizados em larga escala. Nos dias atuais, o anarquismo é declarado na comunidade de Christiania, na Dinamarca, que sobrevive independentemente de qualquer Estado. O anarquismo também tem bastante influência sobre o movimento indígena zapatista e sobre a Comuna de Oaxaca, ambos no México. Foi conquistado até mesmo um feriado internacional, o primeiro de maio, um dia de luto pela execução de anarquistas de Chicago em 1886. Se no começo de sua história o anarquismo ainda poderia ser visualizado em um plano meramente teórico, hoje ele é o resultado de quase 2 séculos de experiência e aprimoramento da prática libertária.
No Brasil, uma das primeiras manifestações do espírito libertário pode ser encontrada no Quilombo dos Palmares, o qual apresentou diversos pontos de acordo com os princípios anarquistas. Mais tarde, foi experimentado na Colônia Cecília, a qual reuniu várias famílias imigrantes italianas para uma vida livre e igualitária em uma região camponesa do Paraná. Nas primeiras décadas do século XX, o movimento libertário brasileiro alcançou diversas melhorias trabalhistas para o operariado. A greve geral de 1917 em São Paulo foi mobilizada por militantes anarquistas e permanece como a maior da história brasileira. A ditadura militar não nos enfraqueceu e o movimento perdura até os dias atuais, encontrando-se em ascensão.
Organizemo-nos pela liberdade, pela justiça e pela igualdade!
Organizemo-nos pela anarquia!
29 de abril de 2010 às 12:58
Primeiramente, parabéns pelo artigo. Foi muitíssimo esclarecedor, e deve ser difundido. É lamentável que o senso comum tenha uma imagem tão errônea do anarquismo e vocês estão contribuindo para que essa imagem seja corrigida.
Só uma correção: Christiania fica na Dinamarca ;), e é um bairro de Copenhague.
29 de abril de 2010 às 13:19
Sensacional! Foi claro, com bons exemplos e tb acho que deve ser uma ideia difundida!
Parabéns!
29 de abril de 2010 às 16:45
[…] This post was mentioned on Twitter by Mateus Dantas, Samory Santos. Samory Santos said: Para quem quer saber o que é o Anarquismo: https://anarquismopiracicabaeregiao.wordpress.com/o-que-e-anarquismo/ […]
29 de abril de 2010 às 21:22
Nossa, realmente! Que distração! rs
Valeu pelo toque, Samory!
Obrigado pelo apoio, gente!
Abraços!
14 de agosto de 2010 às 12:59
[…] saber mais sobre anarquismo, recomendo um artigo esclarecedor do blogue do Coletivo Anarquista de Piracicaba e Região (coletivo este que está […]
5 de dezembro de 2010 às 10:50
Saudações anarquistas.
Passando para parabenizá-lo pelo artigo.
A luta continua.
Abraço.
6 de dezembro de 2010 às 19:04
Obrigado pelo incentivo, compa!
Abraço!
24 de janeiro de 2011 às 12:31
No texto voce diz que que anarquista sao contra as ditaduras do proletariado, nisso eu concordo, mas o comunismo (nao o socialismo) é um ideal extremamente parecido com o anarquismo, seria bom vc colocar isso no texto.
6 de fevereiro de 2011 às 16:01
Olá!
Acontece que, no contexto atual, depende do que você chama de comunismo, e depende do que a pessoa que lê acha que é comunismo…
Infelizmente o bolchevismo durante a revolução russa deturpou completamente os termos “socialismo”, dizendo que esse é o nome que se dá à fase de transição marxista até a sociedade capitalista (quando, na verdade, socialismo quer dizer pura e simplesmente anticapitalismo e socialização dos meios de produção), e “comunismo”, batizando com esse termo o capitalismo de Estado (quando ele na verdade quer dizer uma economia baseada na máxima “de cada pessoa de acordo com sua capacidade, a cada de acordo com sua necessidade”). Se estivermos falando de comunismo libertário, ou seja, a concepção de Reclus, Kropotkin, Malatesta, Goldman, Berkman etc., então você tem razão.
Mas sem dúvida seria necessário outro texto tratando exclusivamente da deturpação dos termos “socialismo” e “comunismo”, então seria muito pra um texto só!
Abraços!
12 de maio de 2012 às 15:01
OIE!quero parabenizar vcs,pois me ajudaram muito no meus deveres sobre tudo q esta escrito ai…muitissississimo obrigado bjsxx p/todos vcs……thau thau até a proxima….
23 de junho de 2012 às 13:26
Eu tenho uma dúvida acerca de uma sociedade anarquista: haverá a necessidade de uma moeda (como o R$)? Poderíamos viver do escambo e do trabalho coletivo e ter uma tecnologia avançada para suprir nossas necessidades com sustentabilidade?
27 de junho de 2012 às 14:09
Saudações anarquistas =)
a luta continua, igualdade a todos.
2 de julho de 2012 às 15:48
queridos companheiros(as), saudações libertárias!
mas, permitam-me, tirando a beleza rebelde do quilombo, de certo grau libertário sim, aquilo não foi nada anárquico, pessoal, verifiquem melhor a história e vejam o papel meio monárquico de zumbi
7 de maio de 2014 às 18:35
[…] saber mais sobre anarquismo, recomendo um artigo esclarecedor do blogue do Coletivo Anarquista de Piracicaba e Região (coletivo este que está […]
22 de agosto de 2014 às 17:04
eu sou anarco-sidicalista, um adepto do anarquismo sindical ou anarco-sindicalismo. defendo a ideia deve refazer o movimento dos trabalhadores. o sindicato atual é oficial ou seja esta atrelado ao estado e claro sob as botas do capitalismo internacional. nós queremos um sindicato único em cada bairro que agregue todas as categorias de trabalhadres. o atual sindicato por categoria foi criado pelo estado com o apoio dos marxistas. e como sabemos enfraquece o movimento paredista e outras lutas operarias.